Outro dia, estive num sítio perto de Miracatu-SP, bem enfiado na Mata Atlântica. Me disseram que no passado, grande parte da área de morros e ravinas daqui era coberta de bananais, com estradas cortando a paisagem para escoamento da produção com caminhões.
O pessoal me contou também que “essas touceiras de palmeira que cê tá vendo aí são juçaís”. Foi então que percebi que as centenas de palmeiras que eu estava vendo na floresta secundária, na verdade, nasciam de touceiras e por isso havia me enganado ao pensar que se tratavam de juçaras (Euterpe edulis).
“Foram plantadas pelo antigo dono para exploração de palmito. Na teoria, evita de cortar as juçaras, que não crescem novamente quando baixadas para tirar o palmito, e aproveita que tá sempre saindo novos caules da touceira. Só que…”
E é aí que, pra variar, começa o problema que a solução gera: rola uma hibridização do juçaí com a juçara, freando a propagação das juçaras, que estão em risco de extinção. Segundo o blog Nossa Flora, Nosso Meio:
Pode ocorrer o cruzamento entre essas espécies ocasionando em uma espécie híbrida que forma touceiras e produz mais frutos e, dessa forma, competir com a juçara na dispersão de seus frutos e ainda causar poluição genética.
Alguns produtores revelam que a espécie híbrida é estéril, mas ainda não é consenso entre pesquisadores.
Acaba que uma touceira de juçaí produz muito coquinho, o que faz com que ela se espalhe rapidamente, tornando-a uma espécie invasora.
Uma das coisas que fui fazer lá no sítio era justamente cortar árvores para abrir mais espaço para entrar sol (famoso manejo). Botamos abaixo várias touceiras e ainda conseguimos palmito.