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Experimento: Recuperação de área de pasto

Passei dois dias no sítio de uma amiga em Anitápolis-SC (novembro/2020). É uma área com relevo bem acidentado que foi transformada em pastagem. À medida que iam baixando as árvores, queimavam os troncos em carvoeiras para produzir carvão. Em seguida, veio o gado.

Observando os morros em volta, dava para ter uma noção de como seria a floresta caso deixássemos o mato tomar conta de novo.

Essa é a vista a partir de um pequeno platô. Uns 15 metros à frente já começa uma descida íngreme. O lugar é cheio de morrinhos.
Logo atrás do lugar de onde tirei a foto acima, tem uma floresta. Imediatamente após o início das árvores começa outra descida íngreme. Lá no fundo, deveria passar um riacho.
E aqui, a foto olhando para o lado. A floresta à direita, o platô no meio e a descida íngreme na esquerda.

Não sei dizer ao certo qual é a espécie de pasto ali, mas chutaria braquiária, que é bem comum. Deu pra notar também que uma das primeiras plantas que apareceram é aquela samambaia dura e chata de roçar, a Pteridium aquilinum.

Sendo uma planta extremamente adaptável, coloniza rapidamente áreas disturbadas, razão pela qual integra numerosas sucessões ecológicas nas etapas de degradação, em especial após incêndios florestais e queimadas de vegetação, sendo extremamente resistente aos incêndios florestais. Apresenta comportamento invasor em diversas regiões, incluindo algumas nas quais é nativa.

Prefere solos profundos e bem drenados, em especial solos arenosos em zonas frescas com substratos acidificados por serem pobres em bases ou ligeiramente siliciosos.

(wikipedia.org)

Ou seja, ela tá ali pra trazer de volta a biodiversidade: vai proteger o solo do sol e aos poucos vai produzindo matéria orgânica. Isso favorece o aparecimento das árvores pioneiras que por sua vez vão ajudar as próximas árvores da sucessão ecológica.

Sucessão ecológica. Imagem de anama.org.br

Quando estive lá, já haviam plantado algumas plantinhas: ingá, araucária, abacate, ervas, gengibre, vários cítricos não identificados. A maioria havia sobrevivido às geadas do inverno passado. Porém, elas estavam totalmente desprotegidas: não havia nada acima nem abaixo, nem cobertura pra gerar sombra, nem cobertura pro solo. Sem falar do vento.

Era assim que estavam as mudas quando visitamos no final de novembro/21

Pensando na recuperação daquela área de pastagem, a ideia foi usar o que tínhamos à mão: mudas já plantadas, o próprio pasto roçado há pouco, água, uma floresta ao lado e algumas sementes e estacas de amora que eu tinha no carro.

No caminho para o platô do pomar, notei vários troncos jogados pelo campo, cobertos com palha e em decomposição. Juntamos vários sacos dessa matéria descomposta, madeira esfarelando, úmida — húmica. Foi estranho notar que não havia minhoca em nenhum lugar onde mexemos, apenas larvas (tipo coró) e besouros.

Essa madeira podre serviria de primeira cobertura do solo, no estilo do plantio-sem-cavar, de Charles Dowging (gracias ao pessoal do Rancho Sem Nome, lá de Rolante-RS, por me indicar os materiais desse cara!).

Como segunda camada, para ajudar a manter a umidade da primeira e dar continuidade ao processo de decomposição, assim como para atrair a vida animal do solo, juntamos vários sacos de capim recém-cortado.

E para criar um delimitador para essa pequena ilha de vida ao redor das mudinhas, buscamos na floresta quais eram as árvores já secas e em estágio de decomposição. Com a motosserra (ou seja, com a ajuda do aço, do plástico e da gasolina), baixamos uma quantidade generosa de material orgânico [1]. Todas essas árvores já estavam mortas. Nós aceleramos um pouco sua viagem em direção ao solo. Até daria também para tirar algumas vivas, cortando troncos inteiros ou podando na área já desenvolvida da floresta em troca de cobrir a parte desprotegida e sem diversidade do descampado. Entretanto, não tínhamos gente e energia para esse tipo de empreitada. Dessa vez, focamos em baixar somente as árvores mortas.

Por cima desse cercadinho de troncos, também colocamos bastante capim seco, de novo pensando na umidade, logo, na decomposição, logo, na multiplicação da vida do solo.

E ao lado das mudinhas, ainda dentro da área dos troncos, plantamos algumas sementes de feijão-guandú, que sempre carrego comigo. Esse é um feijão de árvore, que cresce rápido, aceita poda (adubação verde), dá muitas flores (atrai insetos) e sementes, e ajuda a fixar nitrogênio no solo.

Na galeria abaixo, temos algumas fotos do processo.

Outro experimento que fizemos foi aproveitar algumas árvores que haviam sido cortadas para formar o pasto e depois tiveram o cepo queimado para não rebrotarem e plantar ali dentro, no miolo daquela parte apodrecida do tronco que vira raiz.

Infelizmente, não conseguimos proteger as mudinhas em si. Cobrimos o solo, mas o vento, o sol e, mais pra frente, a geada vão seguir castigando as bichinhas. A vantagem desse plantô onde trabalhamos é que ficava na beira de uma floresta, o que, esperamos, vai dar uma amenizada nas intempéries.

E no final, a galera cansada, mas sorridente.

Notas:

[1] Uma vez li num livro sobre Pastoreio Racional Voisin uma diferenciação entre “material orgânico”, que era definido com “restos de seres vivos”, e “matéria orgânica”, definida como “húmus estabilizado”. Não precisamos concordar com isso, mas gostei de ter uma forma de diferenciar aquilo que a gente já pode usar (adubo) nas plantas e o que ainda precisa decompor.

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