Tradução do texto de Eric Meier, do site The Wood Database.
Permitir que a madeira serrada chegue passivamente a um determinado nível desejado de umidade na secagem ao ar pode ser o método mais simples e menos dispendioso de secar madeira, mas é também o mais lento. Os tempos de secagem podem variar significativamente dependendo da espécie de madeira, nível de umidade inicial, espessura da madeira, densidade, condições ambientais e técnicas de processamento.
Tempos de secagem e estufas
A regra tradicional para a madeira serrada seca ao ar é deixá-la secando por um ano por polegada de espessura da madeira; este adágio obviamente só leva em conta algumas das variáveis acima mencionadas, mas é pelo menos um ponto de partida aproximado para compreender o investimento de tempo necessário para a secagem adequada da madeira serrada deixada ao ar. Em situações em que a madeira verde deve ser transformada em tábuas utilizáveis, (especialmente no caso de madeira mais grossa), é frequentemente utilizado um forno para controlar o processo de secagem. Embora existam vários tipos de fornos para secar madeira serrada, a premissa básica é geralmente a mesma: uma grande câmara ou sala isolada é utilizada para equilibrar e controlar a umidade, a temperatura e o fluxo de ar para levar a madeira com segurança e eficiência a um teor de umidade aceitável. A principal vantagem de um forno é que com o aumento da temperatura e do fluxo de ar – tudo isto mantendo e controlando cuidadosamente a umidade ambiente – a madeira pode ser seca de forma muito mais uniforme, minimizando qualquer tipo de gradiente de umidade entre a casca/exterior (que seca muito rapidamente) e o cerne/interior (que equaliza lentamente a umidade com a casca). Assim, um forno é capaz de secar a madeira muito mais uniformemente e é esta uniformidade na secagem que lhe permite também secar rapidamente a madeira – evitando simultaneamente os defeitos de secagem normalmente associados a uma secagem rápida e desigual.
Defeitos de secagem
Mas a secagem em estufa pode também introduzir tensões internas na madeira – especialmente se for utilizado um programa de estufa inadequado, ou se não forem empregues medidas corretivas – resultando num estado conhecido como endurecimento de superfície (case-hardening). Este defeito é causado quando a camada exterior começa a secar mais rapidamente do que o cerne: a casca tenta encolher, mas é inibida pelo cerne ainda úmido. Se a diferença de umidade entre o cerne e a camada externa for demasiado grande, esta pode secar numa condição de estiramento. Mais tarde, quando o cerne começar a secar e a encolher, a situação é invertida e a camada externa esticada proíbe o cerne de encolher completamente. Em casos extremos de endurecimento de superfície, o cerne pode rachar na extremidade da tábua (split) ou no meio (check) (em inglês, esse defeito é chamado “honeycombing”).
A secagem da madeira em estufa a temperaturas elevadas tem também muitos outros efeitos secundários, tais como a morte de brocas em todas as fases do seu desenvolvimento. No entanto, também pode causar que algumas madeiras – como a noz preta (Juglans nigra) – percam a intensidade das cores do seu cerne, resultando numa aparência mais uniforme e/ou desbotada. Para a maioria das pessoas que trabalham com madeira, ter o seu próprio forno para secar rapidamente a madeira pode ser impraticável ou um exagero. Na maioria dos casos, o simples armazenamento da madeira serrada a um determinado nível de umidade é a melhor opção para garantir que estará no EMC (nível de umidade de equilíbrio) correto quando chegar o momento da construção. No entanto, em alguns casos, tais como no processamento de toras ou na serragem madeira verde, um procedimento mais meticuloso terá de ser seguido.
Dicas para a secagem passiva (ar) em casa
- Processe as toras no momento adequado. Se uma árvore acabou de ser cortada, ou se houve quedas recentes devido a tempestades, é melhor processar as toras o mais rapidamente possível; ao fazê-lo, você abrirá a madeira e ajudará na secagem, o que pode evitar que a madeira apodreça ou manche. A casca em toras inteiras pode atuar como uma barreira natural à umidade e, se não for serrada, pode contribuir para a decomposição e deterioração fúngica em algumas espécies.
- Corte a madeira ligeiramente acima da medida. Lembre-se de que a madeira encolhe à medida que seca. Isto, juntamente com o material que inevitavelmente se perderá quando as tábuas precisarem ser unidas ou aplainadas, significa que quando verde, ela deve ser sempre cortada maior do que o tamanho acabado desejado. (E normalmente não é necessário aplainar a madeira antes da secagem, uma vez que sem dúvida ela distorcerá ligeiramente durante o processo de secagem, e as laterais devem ser cortadas somente depois de a madeira ter alcançado o nível de umidade de equilíbiro, EMC).
- Sele as extremidades. Para além do processamento das toras no momento adequado para evitar manchas e apodrecimento devido a umidade excessiva, também se deve evitar o oposto: permitir que a madeira seque demasiado depressa resultará em fendas e racahduras. É importante lembrar que a umidade escapa da madeira cerca de 10 a 12 vezes mais rapidamente nas extremidades do que através de outras superfícies. A selagem dos grão da ponta (na seção transversal onde a tora foi cortada) força a umidade a sair de uma forma mais lenta e uniforme. Se isto for negligenciado, as extremidades tenderão a encolher mais rapidamente do que o resto da madeira, criando tremendas tensões na peça que, em última análise, só é aliviada com a rachadura dos grãos da ponta – um defeito de secagem muito comum. (Embora existam no mercado seladores para os grãos da ponta especialmente formulados, quase tudo serve um pouquinho: cera de parafina, poliuretano, shellac, ou mesmo tinta látex podem ser usados para selar a superfície da ponta. O importante é construir uma película espessa e obstrutiva que irá inibir a umidade de escapar nas extremidades da peça. A fim de minimizar o risco de rachadura, é recomendado revestir as extremidades da madeira em minutos – não em horas ou dias – após ter sido serrada.
- Empilhamento e separação. Ter madeira de comprimentos e espessuras uniformes ajuda muito e simplifica o processo de empilhamento; uma vez serrado um tronco em tábuas de dimensões satisfatórias, é crucial empilhá-las de tal forma que fiquem expostas ao ar em todos os lados – tipicamente se usa ripas para tal tarefa. As ripas são pequenos pedaços de madeira (geralmente cerca de 2cm x 4cm) que são utilizados para espassar as tábuas serradas, o que aumenta a ventilação e ajuda num processo de secagem mais uniforme. O espaçamento doas ripas varia em função da espécie e espessura da madeira a secar; um esquema de espaçamento conservador seria a cada 30cm, embora normalmente o espaçamento de 40cm ou 60cm possa ser usado com segurança em peças mais espessas.
- Acrescente peso. Assim que o conjunto de madeiras for empilhado e separado correctamente, é útil adicionar peso à pilha. A madeira na parte inferior da pilha provavelmente terá peso o suficiente devido à madeira acima, mas as tábuas perto da parte superior se beneficiarão muito com o peso adicionado. Colocar peso em cima da pilha de madeira ajuda a evitar empenos ou distorções, o que é especialmente importante durante a fase inicial de secagem, quando se passa de verde para o nível de umidade de equilíbrio (EMC) ambiente. O empilhamento, a separação e a adição de peso de forma adequada irão garantir que o processo de secagem resultará numa madeira plana, estável e utilizável.
- Acrescente calor quando o EMC for atingido. É importante não apressar muito o processo de secagem, mas uma vez que uma pilha de madeira tenha atingido o EMC em segurança, pode ser necessário (especialmente durante os meses mais úmidos) diminuir ainda mais o conteúdo de umidade (MC) da madeira para um projecto específico. Isto pode ser tão simples como mover a pilha de madeira de uma garagem ou galpão para um porão aquecido dentro de casa. Nos casos em que são utilizadas peças mais curtas, uma cabine de secagem pode ser utilizada para reduzir gradualmente a MC até 12% mc, 6% mc, ou qualquer outro nível que uma aplicação possa exigir.
Uma cabine de secagem não precisa ser mais do que uma simples cabine de madeira com uma lâmpada incandescente com um dimmer (controlador de intensidade de luz) – o que por sua vez dita tanto a temperatura interna como consequentemente a umidade relativa. Muitos termômetros (tanto tradicionais como digitais) vendidos nas grande lojas também apresentam um higrômetro com uma leitura um tanto precisa da umidade relativa; poder saber o nível de umidade relativa tanto da cabine de secagem como da sua oficina acaba sendo um investimento útil e prudente.
Deformações
Quando uma espécie de madeira tem uma elevada relação entre o encolhimento tangencial e o radial (taxa T/R), ela tenderá a encolher numa dimensão mais do que noutra enquanto seca, causando distorção ou deformação. Uma boa maneira de visualizar as tendências de deformação da madeira durante a secagem é imaginar o arco dos anéis de crescimento tentando aplanar-se. (Isto, claro, não é de facto a causa do encolhimento, mas serve como uma boa ferramenta de memória para ajudar a visualizar as mudanças dimensionais).
IMAGEM
Esta vista de topo da ameixeira (Prunus domestica) mostra um envergamento. A tábua foi inicialmente cortada plana, sendo o topo e a base originalmente paralelos. Será necessária uma nova passada na máquina para garantir que a tábua fique plana e retangular.
Os resultados do encolhimento desigual variam em função da forma da tábua e da orientação do grão dos grãos; as tábuas serradas planas tornam-se côncavas, as de seção quadrada adquirem forma de diamante, e as cavilhas circulares tornam-se ovóides. Além disso, há uma série de problemas de deformação que podem ocorrer e que não estão apenas relacionados com o encolhimento desigual. Em certos casos, uma falha pré-existente está presente na própria madeira, que só é evidenciada e tornada aparente pelo processo de secagem. Isto pode resultar em defeitos tais como: empenamento, envergamento na largura, torção, ou uma combinação de dois ou mais defeitos simultaneamente. Independentemente dos nomes específicos que possam ser aplicados à madeira distorcida, a maioria dos problemas de deformação relacionados com a secagem podem, pelo menos, ser minimizados utilizando algumas diretrizes simples:
- Utilizar técnicas de empilhamento adequadas. Como mencionado anteriormente, a forma mais efetiva de evitar a deformação é, de longe, o empilhamento adequado, a separação entre as peças e a adição de peso numa pilha de madeira.
- Evitar a madeira jovem. Madeira jovem é a madeira que se forma durante os primeiros anos de crescimento de uma árvore, e pode ser pensada como uma extensão da cerne. Não existe uma largura oficialmente determinada para definir uma madeira jovem, (geralmente excluindo os primeiros anéis centrais de crescimento é suficiente), mas geralmente, quanto mais longe a madeira for cortada do cerne, melhor. Tal como o cerne em si, a madeira juvenil é muito instável, e tem uma elevada taxa de retracção longitudinal; esta maior taxa de retração faz com que esta se contraia e deforme ou ao longo da face da tábua (empenamento), ou ao longo da lateral da tábua (curva).
- Evitar o uso de ramos ou árvores inclinadas. A madeira que cresceu inclinada não tem um espaçamento uniforme do anel de crescimento e varia desde a face superior até à inferior. Esta madeira anormal é chamada madeira de reação, e pode causar uma série de problemas imprevisíveis de deformação durante a secagem. Nas madeiras macias, a madeira de reação forma-se na face inferior de um ramo ou tronco, e chama-se madeira de compressão. Inversamente, nas madeiras duras, é exactamente o contrário: a sua madeira reativa forma-se na face superior e chama-se madeira de tensão.
- Evite os nós. Simplificando, os nós são seções no tronco de onde cresceram os galhos. Para além de encolherem de forma desigual ou possivelmente soltarem-se durante a secagem (deixando um olho do nó), os nós também podem criar áreas de anomalias concentradas no grão da madeira, e consequentemente afetar as suas propriedades de encolhimento. A presença de grandes nós pode resultar em empenos dramáticos e exagerados durante a secagem.
- Lidar com cuidado com os grãos em espiral ou entrelaçados. Algumas espécies de madeira têm o que se chama grão em espiral ou entrelaçado. Tal como o nome indica, as fibras da madeira crescem de uma forma torcida ou entrelaçada. Não surpreendentemente, isto pode resultar em problemas de secagem, mais frequentemente torções – onde um dos cantos de uma tábua é levantado para fora do plano dos outros três cantos. A secagem cuidadosa, juntamente com o empilhamento, o espaçamento e a pesagem adequadas podem ajudar a aliviar as dificuldades causadas por grãos irregulares ou em espiral.