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De onde tirar água?

Se tu tá querendo montar um plantio numa maravilhosa área plana e não tem nenhum rio ou córrego passando perto, de onde tirar a água necessária para as plantas?

A resposta é simples: da chuva!

Certa vez, fui num mutirão no Quadrado, em Florianópolis. Uma pequena área do aterro da baía sul foi ocupado por ciclista para reivindicar a criação de uma área verde de lazer (AVL). O aterro é imenso e poderia se transformar num parque. Mas, claro, já na época das obras, podia-se imaginar que aquilo viraria uma série de conjuntos habitacionais, entre duas avenidas muito movimentadas e um dos mais belos por-do-sol da ilha.

A galera ocupou o espaço, promoveu encontros e atividades, e começou a plantar. Entre os vários problemas que enfrentaram, como incêndios, solo 100% arenoso e a disputa com a prefeitura para que as coisas simplesmente ficassem lá, não havia água.

Do ponto de vista agroflorestal, para não ter que trabalhar tanto, seria preciso dar tempo às plantas e auxiliá-las no seu processo de sucessão natural. Quais espécies seriam mais adequadas àquele solo e clima? O que plantar primeiro que ajudaria as que viriam em seguida? Enfim, se temos segurança, o tempo é nosso aliado. Porém, num espaço em disputa, era preciso acelerar as coisas.

Assim, foram trazidas mudas crescidas de árvores e frutíferas e composto em grande quantidade. Mas ainda faltava água. A saída foi montar uma cisterna.

Como se pode ver na foto abaixo, a solução que a galera bolou é bem curiosa. Afinal, onde está a caixa dágua?

Não lembro exatamente das medidas, mas era mais ou menos assim. Construíram um telhado de 3m x 3m com telhas recicladas. Ele é baixinho e levemente inclinado para o sul: o vento que sopra dessa direção é famoso na ilha pela sua força. Na parte mais baixa tem uma calha que conduz a água para a caixa dágua de 500 litros que está enterrada logo abaixo do telhado. Isso evita o roubo e a depredação, além de reduzir os danos causados pelas eventuais queimadas que consomem o capim seco do entorno (o capim é roçado de tempos em tempos, principalmente nas épocas mais secas).

Para pegar a água armazenada, cavou-se uma pequena valeta em forma de escada que dá acesso à torneira. E aí está!

O uso de água da chuva para abastecimento humano ou irrigação é antiquíssimo e pode ser feito de maneiras muito simples. Podemos ver hoje a tecnologia das cisternas no nordeste brasileiro, feitas de ferro cimento, ou em desertos do Oriente Médio, escavadas na rocha.

Fortaleza arqueológica de Massada, no deserto da Judeia, ao lado do Mar Morto. O lugar possui duas enormes cisternas subterrâneas.

Porém, não são apenas as regiões secas que estão preocupadas com água. Moradores de longa data de locais da Mata Atlântica, como Maquiné-RS (onde morei por alguns anos), vêm relatando que suas fontes estão secando.

Visitei uma fazenda nas serras do Rio de Janeiro, onde havia um moinho de cana movido a àgua, mas que hoje usavam motor a diesel. Perguntei prum senhor de uns 70 anos o que aconteceu para que sumisse a água que corria na cachoeira ao lado do engenho. Ele pegou um copo com água, tirou o chapéu e derramou-a sobre a careca. Quando a água parou de escorrer, ele apontou para o pasto no terreno que estava acima do seu e disse: “sem floresta, não tem água”.

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