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Compostagem

Poda triturada: teste de retenção de água

Pensando na questão da falta de água num terreno, podemos encarar a questão pelo lado da entrada (como a água chega: chuva, córrego, etc.) e também pelo lado da saída (como ela vai embora: evaporação, infiltração, etc.). Uma das formas de evitar que a água saia por evaporação, por exemplo, é cobrir o solo. Outra seria mantê-lo plantado, ou seja, sombreado.

Ciclo da água genérico

Como aqui no Caminhos da Floresta nós recebemos poda triturada da companhia de eletricidade, este é um recurso, de certa forma, abundante. Como ele se comporta em relação à água?

Resolvi, então, fazer um teste para ver quanto de água esse material, em duas etapas do seu processo de decomposição, reteria.

Experimento

A ideia foi analisar a poda recém-triturada seca (A1) e a poda triturada que ficou algum tempo no terreiro das galinhas, parcialmente decomposta (A2). Pesei o volume da amostra seca e depois selecionei uma quantia para ir pro balde, onde ficaria submersa durante 24h. O resultado que eu buscava era saber quanto de água uma massa de poda triturada reteria em relação ao seu peso seco.

Chamei o processo de Retenção, pois a água fica retida no material de duas formas: uma, entrando nos poros (como uma esponja – absorção); outra, ficando na superfície, entre os pedacinhos, por tensão superficial (adsorção).

Diferente do solo, que possui partículas bem menores como argila, silte e areia, a poda triturada tem muito espaço vazio entre cada pedacinho.

No solo, primeiro a água molha as paredes das partículas (água higroscópica), depois preenche o espaço entre elas (capilar) e então, quando chegar à saturação, escorre por gravidade (gravitacional). Depois que chove, o processo é inverso: o “excesso” de água dos poros grandes percola por gravidade mais para dentro da terra, quem sabe até chegar no lençol freático. A água que sobra, grudada nas paredes do material sólido, vai sendo puxada para dentro das plantas ou para a superfície por diferença da pressão. Aí chega um ponto em que a pressão das plantas não consegue mais retirar a água do solo e, caso não venha mais água, entramos no ponto de murcha.

A força que retém a água na parede dos sólidos é mais forte que a força da gravidade. Assim, mesmo se a poda triturada ficar submersa por um bom tempo, o espaço entre os pedacinhos é muito grande, fazendo com que, depois de retirada da água, a força da gravidade leve embora a maior parte da água. Comparada com o solo, por causa do tamanho das partículas, um mesmo volume de poda triturada reterá muito menos água. (O carvão ativado, que possui uma área imensa por unidade de massa, consegue reter ainda mais água que o solo.)

Água no solo

Limitações do experimento

  • O material das podas é variado, contendo diferentes espécies vegetais e diferentes partes da planta (folhas, galhos novos, galhos mais lenhosos).
  • Não sei quanto tempo o material ficou decompondo no galinheiro. Suponho que tenha sido em torno de 2 a 3 meses.
  • Este teste de retenção foi realizado na condição de saturação, ou seja, o material ficou submerso durante um período, o que não é o caso se usamos as podas como cobertura. Em breve, farei um teste de percolação, que simularia melhor a chuva caindo na cobertura.
  • O peso das amostras é pequeno, o que pode resultar em erros na hora de extrapolar para quantidades maiores.

AmostrasPeso
Poda recém-triturada seca (A1)(kg)
Volume de 1 litro (seco)0,185
Qtde a ser submersa1,025
Peso depois de submergido por 24h2,395
Peso de água retida1,37
Taxa de absorção
(kg de água / kg da amostra)
1,37
Poda triturada semi-decomposta (A2)(kg)
Volume de 1 litro (úmido)0,405
Volume de 1 litro (seco)0,265
Qtde a ser submersa0,665
Peso depois de submergido por 24h1,965
Peso de água retida1,3
Taxa de absorção
(kg de água / kg da amostra)
1,95

Discussão

Retenção de água

Antes de mais nada, queria destacar que a amostra semi-decomposta (A2) úmida já continha 53% do seu peso em água quando foi coletada. Ou seja, a decomposição (microrganismos) e as intempéries (umidade) criaram caminhos para a água se infiltrar e ficar escondida dentro da madeira, ao mesmo tempo que reduziam o tamanho do triturado. E veja: ambas amostras receberam a mesma quantidade de chuva nas 2 semanas antes do experimento.

Se a poda estivesse recém-triturada (ainda nova, digamos assim), ela somente conseguiria um resultado semelhante (ter metade do seu peso em água) quando encharcada. Não medi, mas quando esteve exposta ao tempo ela não segurou a água por muito tempo – estava quase seca quando a coletei. O experimento mostrou que, quando saturada, a A1 reteve 1,37 vezes do seu peso seco em água. De uma amostra de 10kg, por exemplo, 5,73 kg seriam água.

Já a poda triturada semi-decomposta, quando submersa, conseguiu atingir aproximadamente o dobro (1,97x) do seu peso seco em água. De uma amostra de 10kg, por exemplo, 6,63kg seriam água.

A amostra semi-decomposta submergida reteve 30% mais água que a “nova”.

Volume

Quando pensei no experimento, não previ a necessidade de pesar o volume da amostra. Mas quando fui coletá-las, notei que a poda recém-triturada ocupava muito mais espaço que a semi-decomposta. Na primeira, 1kg de amostra quase deu conta do saco de coleta. Na segunda, coloquei 2kg e cheguei apenas até a metade do saco. Já sabia que o principal fator para essa diferença era a umidade do material. Mas, sabendo também que a decomposição já estava em andamento, supus que seus pedacinhos se “encaixariam” melhor (por serem menores) que os do material recém-triturado.

Então, peguei um recipiente de um litro e enchi-o com os materiais. Um litro da amostra A1 seca pesava 0,185kg, enquanto a amostra A2 (retirada úmida do solo) pesava 0,405kg. Depois de seca, 1 litro da A2 pesava 0,265kg. Estas pesagens não foram muito bem feitas.

Assim, podemos esperar que 1 kg de uma poda triturada decomposta seca ocupe menos volume que 1 kg de triturado “fresco”. Essa deve ser a principal razão para a amostra A2 conseguir reter mais água, ou seja, devido a pedaços menores, ela tem mais paredes para a água aderir.

Próximas experiências

  • Medir a taxa de retenção de água de 1kg de terra (observando as textura da amostra);
  • Medir o tempo de secagem de uma poda recém-triturada e de uma semi-decomposta;
  • Medir a taxa de retenção de água de 1kg de composto maduro feito com poda triturada.

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