Esta é uma tradução da seção Decidindo prioridades, capítulo 2 do livro Permaculture 2, de Bill Mollison (1979).
Nos estágios iniciais, as necessidades reais devem ser atendidas e ambientes adversos modificados. Mas sempre:
- a primeira prioridade é o planejamento;
- a segunda, as necessidades humanas;
- a terceira, a conservação de energia;
- e quase como resultado dessas, a modificação ambiental por meio de projetos e estruturas.
As condições para sistemas futuros de conservação de energia devem ficar abertas, de modo que todo o sítio seja reservado para sistemas de vento, maré, água ou sol. Mesmo que esses não possam ser implementados nos primeiros anos, o espaço é “reservado” por uma cultura anual ou uso de curto prazo.

Quando chega a hora de implementar:
- as primeiras estruturas e projetos devem ser aqueles que geram energia;
- a segunda, aqueles que guardam energia;
- e somente por último, aqueles que consomem energia.
Prioridades são relativamente fáceis de definir, agrupando-as em critérios que são atualmente importantes e frequentemente revisados, porque, com o passar do tempo, as condições mudam.
Mais tarde, pode ser possível um planejamento comercial e de “luxo”, após a satisfação das necessidades básicas. O planejamento de longo prazo em comunidades poderia então focar na diversificação e especialização na provisão de medicamentos, corantes, produtos químicos básicos e combustíveis. Poucos de nós começam, no entanto, sem precisar emprestar energia na forma de alimento, combustível, remédios ou até esterco.
Em todo o nosso planejamento, o objetivo principal deve ser alcançar uma sinergia, de modo que tudo que pode estar junto, esteja junto, funcione junto e ajude um ao outro — “Cada unidade tem muitos usos: cada uso é realizado de muitas maneiras”— , montando, assim, um sistema à prova de falhas.

Aplicando esses critérios, muitas perguntas se responderão sozinhas, por exemplo:
Onde devo construir minha estufa de vidro?
Ao considerar apenas a energia, as respostas são óbvias:
- primeiro, junto a habitações como fontes de calor e armazenamento, e para cultivar alimentos;
- em segundo lugar, junto a estruturas não residenciais, como fontes de calor;
- em terceiro, como parte do alojamento de animais, com troca de calor, esterco e gases;
- e só por fim, ou talvez nunca, de forma sensata, como estruturas independentes, totalmente envidraçadas.
Como devo lidar com o vento que impede meu cultivo no local?
- Primeiro, plantando qualquer árvore ou arbusto, útil ou não (absinto, capim pampa, pinheiro, coprosma, espinho), que seja barato ou gratuito localmente, cresça muito rapidamente, possa ser plantado com estacas ou a partir de estolões, e que sobreviva;
- Em segundo lugar, com estruturas, especialmente treliças, paredes de pedra solta ou de junta seca, valas, bancos e pequenas sebes por toda a horta;
- Em terceiro lugar, com plantio em larga escala de mudas rápidas ou sementes de espécies resistentes;
- E por último, com uma sebe útil e permanente plantada sob a proteção das estratégias acima.

O que vale a pena como cultura principal?
Apenas algumas espécies de plantas valem a pena para cultivo principal extensivo. Ignorando o valor comercial por enquanto, há três considerações principais:
- Cultivo principal que requer pouca atenção após o estabelecimento (batatas, milho, abóbora);
- Que seja fácil de colher, armazenar e usar;
- Além disso, pode formar uma base na alimentação.
Assim, batatas, milho, abóbora (para sementes e polpa) novamente. Cereais somente se cultivados em pequenas parcelas no sistema Fukuoka.
Comercialmente, também devemos considerar culturas de:
- alto valor econômico, mesmo que sejam difíceis de colher (morango, framboesa);
- ou difíceis de conservar (melões, pêssegos);
- ou raras, mas com grande demanda (ginseng, aspargo);
- ou particularmente adequadas ao local (cacto, figo, castanha d’água, cranberry), como, por exemplo, uma ladeira suave ao norte onde poucas variáveis são encontradas.
Sobre os mesmos critérios, devem ser considerados os cultivos arbóreos;
eles podem sempre ser intercalados com culturas anuais enquanto o tempo passa. Assim, seguindo a numeração acima:
- ameixas, frutas resistentes e vinhas;
- nozes e frutas que podem ser facilmente secadas;
- novamente nozes e frutas de alto valor nutricional;
- cerejas, açafrão;
- frutas macias “locais” como paw-paw, framboesas;
- especiarias, remédios, corantes e óleos;
- entre outros, bordo de açúcar, resina de cidra, pistache, etc.
No mundo real, muitas vezes trabalhamos sem precedentes, e nesses casos, o senso comum, a observação, boas pesquisas sobre espécies e os princípios físicos necessários são nossos únicos guias. Mas o designer deve estar sempre atento aos fenômenos locais e às características especiais, procurando transformar o que já está em andamento em vantagem, ao invés de introduzir novas estruturas e, consequentemente, nova energia.