Quando subi o telhado do Barracão (minha antiga casa) e montei a barraca lá embaixo, comecei a inventar coisas esdrúxulas. Por exemplo, cavar um buraco para fazer um micro-laguinho do lado de casa. Ele tinha mais ou menos o formato de um comprimido, com 1,5m de comprimento, 50 cm de largura e uns 40 cm de profundidade. Botei um resto de lona no fundo, enchi com água da chuva e pronto: já podia receber alfaces dágua (Pistia stratiotes) e pinheirinhos dágua (Myriophylum aquaticum). Em pouco tempo, apareceram as rãs. E com elas, os sapos-martelos, que passavam as noites numa batucada infernal.
Foi ali, naquela poça permanente que presenciei a luta de uma líbelula para salvar outra libélula das garras de uma aranha-marrom. A que estava livre, de tempos em tempos voava até a superfície da água e com uma “rabada” lançava respingos contra a aranha, que carregava com dificuldade sua presa sobre a água. O salvamento falhou, mas o espetáculo natural de amizade, solidariedade, ou sei lá qual nome dar ao propósito daquela ação, foi incrível.
Bom, até que um dia, a lona furou e a água se foi. Decidi não consertar. Ao ver as plantas aquáticas secando, me veio a ideia: vou usar esse buraco para compostar!
Então, comecei a juntar folhas do mato, picotar as podas de guandu e ingá, depois veio o margaridão, joguei bosta de vaca e os restos de cinza. O buraco ficava sempre coberto por um carpete pesado. Dei umas reviradas de vez em quando, parei de mexer lá no final do inverno e deixei descansar por 4 meses .
Aqui está o resultado:
Acho que foi importante manter o composto coberto, não tenho certeza. Ainda tinhas uns galhinhos sem decompor. E fiquei surpreso com algumas folhas também no meio do caminho, sem estarem totalmente degradadas. As podas de guandu desapareceram completamente. Num ponto, encontrei alguns cupins. Em outro, umas formigas (o que me preocupou; não imaginava que elas apareceriam). A esse altura do processo, não percebi sinais de fungos (nem brancos, nem coloridos, nem mofos). E a umidade do composto parecia baixa, mas não estava exatamente seco.
Espalhei a maior parte dele pelos canteiros e recomecei o processo. Agora usando podas de ora-pro-nobis, mamona verde, almeirão japonês, folhas de couve, as plantas espontâneas sem sementes (buva, capiçova, alface do mato, etc.) e restos de troncos podres que recolhi no mato.
Charles Dowding afirma que dá para colocar as espontâneas seja com bulbos seja com sementes, pois a temperatura da compostagem acaba degradando essas partes também. Escolhi não arriscar ainda. O volume ali é pequeno. Mas quando tiver uma composteira melhor/maior, onde consiga controlar as condições dela, provavelmente farei a experiência.